terça-feira, 8 de maio de 2007

AS ÁRVORES DO SENAC - Guaratingueta SP

A verba calou o verbo. O verbo deveria se transformar em luz. A sombra da insensibilidade maior que a sombra das árvores que nada cobram pelo seu frescor e pela sua função natural que numa idade assume função social.
O sistema de transporte urbano da cidade necessita de uma área, próxima ao centro, para o sistema de integração do serviço urbano de transporte. A área próxima ao Senac é vista pelos técnicos como uma área privilegiada. Numa administração de engenheiros é perfeitamente cabível cortar árvores e deixar cair uma ponte secular, onde obrigatoriamente os doutos transitavam sem perceber um monumento histórico estava prestes a desaparecer. A ponte caiu numa administração de engenheiros e caminho de professores de engenharia civil. O velho como coisa do passado. O novo moderno que destrói a história em nome do pseudo progresso.
Não sei até que ponto a sociedade está participando desta reincidência criminosa num local que já foi destruído no passado.
Neste pequeno bosque, que tem a função de proteger uma instituição de ensino, que dentro da mesma ótica da construção civil é feito de concreto que sem o frescor das árvores tornará em forno, ou melhor, usando a tecnologia moderna: um micro ondas. O bosque tem esta função e faz parte do conjunto arquitetônico da instituição. Faz ou não faz parte? Que não digam os técnicos. Falem os munícipes.
Aquele local era área de alagamento do Rio Paraíba que nas grandes cheias chegavam até a linha do trem na passagem de nível da rua da Palha. Local onde eram depositados feixes de palha de milho, restos da produção da fazenda do Comendador João Galvão, cuja residência era o antigo Hotel Guará.Nos seus últimos tempos foi local de baile e encontro da juventude.. Um velho casarão que foi transformado em Hotel. Com escadarias de madeira torneada, pisos quadriculados na cor preta e branca, dando a idéia de um grande tablado de xadrez. Rico em detalhes, um monumento de uma era que se extinguia em nome da modernidade.
Daí o nome Rua da Palha, segundo o historiador Ferreira Jr., a versão mais consistente. O comendador trazia de sua fazenda as palhas de milho que eram selecionadas pelas mulheres para a fabricação do cigarro de palha, atividade econômica que o Comendador desenvolvia paralelamente ao negócio agrícola. Rua da Palha resistiu ao tempo tornando o Almirante Barroso um ilustre desconhecido.
Ali, naquele bosque do Senac havia uma igreja, uma pequena capela, a igreja de Santa Cruz, cujos festejos ocorriam no início do mês de maio. Ao lado, a marcenaria do Bandeira, responsável pelo serviço de portas, janelas e armários de madeira que saiam da prancheta do jovem arquiteto Pedro Sigaud - sobrinho do famoso médico Dr.Sigaud – casas, prédios, no estilo art-decô. A última obra intacta desta época foi recentemente destruída e transformada em estacionamento. Ficava na rua Feijó. O Clube Literário Centro, Bar Pequeno, restos de uma arquitetura que antecedeu os arquitetos modernistas, como o brilhante Dr.Ariberto (Ariberto Pereira da Cunha) em seu inseparável chapéu panamá e óculos Ray-ban visitando as suas obras de linhas retas, pilares, vigas, muita luz e grandes vãos. Uma riqueza arquitetônica que a cidade desconhece.
O bosque do Senac abrigou espetáculos circenses de companhias internacionais. O circo mais famoso, o Serraceni (tenho dúvida sobre a grafia), circo italiano, em que os artistas se hospedavam em carros leitos da Estrada de Ferro Central do Brasil, estacionados em uma linha auxiliar ao lado da Estação Ferroviária. A visitação pública era possível. Luxuosos vagões dormitórios, restaurante, sala de estar. Os animais ficavam do outro lado do rio, nos campos do GEF (Grupo Estudantil de Futebol), onde hoje é a vila Paraíba. Onde é o bosque, o marco geográfico marcando a latitude, longitude e altitude da cidade. Um marco de granito com aproximadamente 1.50m do Instituto Geográfico e Geodésico. Atualmente encontra-se enterrado, com uma altura externa de cerca de oitenta centímetros no Bar do Bodão, no Campo do Galvão. Serve de encosto ou aparador de uma gelada. Em cima da pedra, as letras em latão, indicando os pontos cardeais em inglês.
Extinguir este bosque é a segunda violação que este local sofrerá.
Uma pergunta: antes de qualquer atitude deveria ser respondida pelo poder público qual o motivo da escolha daquele local? Existe um projeto para a colocação deste terminal do outro lado do prédio do Senac, com uma passarela, ao lado da estação, para o mercado e o centro; uma via de acesso ao lado da linha do trem para a rua da Palha (Almirante Barroso). Porque destruir o que foi construído e a natureza manteve? Como fica o Senac, que necessita de silencio, é uma instituição de ensino, vai se comportar com a poluição sonora, poluição dos ônibus, e o calor? Não posso acreditar que o projeto anterior seja esquecido porque foi o outro prefeito que idealizou. Se prevalecer este absurdo, rezem pelas árvores porque serão cortadas novamente em nome do progresso que corrompe e destrói. Uma cidade que está vivendo dias de graças é muito triste imaginar que tal fato ocorra. Salve o bosque do Senac, em nome da coerência, do bom senso e do respeito ao meio ambiente.O desrespeito ao Senac será porque foi um outro prefeito que trouxe para Guaratinguetá? Pensem nos alunos, nas pessoas que usufruem a frescura desse bosque que sequer precisa da manutenção do poder constituído. O bosque é adulto!

Márcio Meirelles,
Publicado pelo jornal ATOS

2 comentários:

Anônimo disse...

E´vergonhoso o descaso da cidade pelas arvores.
Eu morei po 12 anos em uma rua dos Carteiroa no Pedregulho. Durante todo esse tempo lutei pela sobrevivência de uma Bauínia em minha calçada.
Em junho me mudei. Avisei a Polícia Florestal. Depois de uma semana a ávore nao tinha mais sua copa, só o tronco. Depois de um mês foi extirpada. Tudo em nome de calçadas sem folhas.

Anônimo disse...

E´vergonhoso o descaso da cidade pelas arvores.
Eu morei po 12 anos em uma rua dos Carteiroa no Pedregulho. Durante todo esse tempo lutei pela sobrevivência de uma Bauínia em minha calçada.
Em junho me mudei. Avisei a Polícia Florestal. Depois de uma semana a ávore nao tinha mais sua copa, só o tronco. Depois de um mês foi extirpada. Tudo em nome de calçadas sem folhas.